Nas imagens que chegam da Amazônia, os leitos de rios secos com imensas quantidades de areia antes submersas lembram mais desertos que a maior bacia hidrográfica do planeta. Ao mesmo tempo, no Sul, as chuvas intensas transformam o que era terra em água, também batendo recordes, levando vidas e ameaçando cidades. Claro que o famoso El Niño tem grandes contribuições, mas os cientistas são categóricos ao afirmar que esse tipo de fenômeno extremo será cada vez mais frequente por conta das mudanças climáticas. É um momento que exige urgência no engajamento da humanidade em prol da proteção do planeta. E isso requer um olhar coletivo para a mesma direção.
Não se trata de idealizar o mundo
estático, sem crescimento econômico, mas de fazer a roda girar por meio do
desenvolvimento sustentável, desencadeando um ciclo virtuoso. E nesse contexto,
nossos parques, se bem conservados, podem contribuir nesse processo ao fomentar
o turismo e criar vínculos positivos com as pessoas, seja pelos impactos
socioeconômicos que promovem, pelos benefícios que geram para a nossa qualidade
de vida ou pelas emoções provocadas pelo contato com a natureza em todo seu
esplendor.
Ao voltar para casa, criada uma conexão sentimental com a natureza pautada pela educação ambiental, passamos a considerar como nossas ações diárias afetam o clima, a natureza e outras pessoas e, da mesma forma, como podemos minimizar os impactos negativos e potencializar a construção de um futuro sustentável, seguro, justo e inclusivo. Mas, para isso, é necessário que os parques sejam visitados.
Esse objetivo comum tão
necessário ainda precisa ganhar mais força entre os diversos formuladores e
executores de políticas públicas para o turismo de natureza nos parques. A
adição de Mudança do Clima ao Ministério do Meio Ambiente vem nesse caminho, mas
precisamos de mais: precisamos de uma visão comum que una não só órgãos
públicos, mas toda a cadeia do turismo e a sociedade, para que as ações sejam
coordenadas nesse sentido. Temos, de um lado, um setor de turismo bem
estruturado, sedento por novas experiências para oferecer a quem viaja, e, do
outro, uma natureza majestosa tão bem refletida em nossos parques.
Algumas iniciativas têm sido
feitas para tentar melhorar essa dinâmica. Uma delas é a Rede Brasileira de
Trilhas, entidade civil que congrega trilhas nacionais, regionais e locais,
cada uma com uma estrutura de governança própria. Ao lado do Ministério do Meio
Ambiente e Mudança do Clima, Ministério do Turismo e do Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com apoio dos destinos, moradores
locais, voluntários e trade turístico, a associação se dedica a implementar,
manter e apoiar a divulgação das trilhas brasileiras, diversas delas integrando
vários parques e outras unidades de conservação. É um bom exemplo de ação
voltada a estimular o turismo alinhado à conservação.
Ações como essa ajudam o país a
alcançar seu potencial de 56 milhões de visitantes anuais conforme apontado
pelo parques como vetores de desenvolvimento para o Brasil, desenvolvido pelo
Instituto Semeia e que pode ser encontrado no site da instituição. Para se ter
uma ideia do quão aquém estamos, só no ano passado esse contingente, nos
parques nacionais, não passou de 11 milhões de pessoas.
O desenvolvimento depende dessa
visão comum, mas também da formulação de políticas públicas estruturantes que,
de fato, fomentem a visitação em nossos parques. Esse é outro passo fundamental
para traçar estratégias que reforcem os impactos do turismo nesses espaços.
Essa agenda tem tudo para ganhar força na COP30, que acontecerá, em 2025, em Belém, e destacar a relevância dos parques e de outras unidades de conservação nesse contexto. Também é uma oportunidade para que o governo deixe um legado para o futuro, mostrando que os benefícios da visitação não são apenas para visitantes e moradores, mas para todos nós em um ambiente ecologicamente equilibrado.
Esse caminho se tornará menos árido se conseguirmos
coordenar esforços coletivos que rumem para uma mesma direção. Caso isso
aconteça, poderemos almejar para as próximas décadas um sistema nacional que
integre, cada vez mais, os parques em todo o seu potencial de conservação do
meio ambiente e de turismo sustentável.
Fonte: Correio Braziliense.

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