O combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) é uma das medidas para que o setor aéreo, responsável por 2% das emissões globais de gases de efeito estufa, consiga alcançar suas metas de descarbonização.
O desafio para o Brasil não é
desprezível. O país é signatário da Carbon Offsetting and Reduction Scheme for
International Aviation (CORSIA), uma iniciativa da International Civil Aviation
Organization (ICAO), agência das Nações Unidas que congrega 193 países e visa à
cooperação internacional no setor aéreo.
Alinhado com os objetivos da CORSIA, o Brasil assumiu o compromisso de zerar as emissões líquidas de carbono do setor aéreo até 2050. Ou seja, alcançar o estágio de “net zero”.
Mas outra data se aproxima: 2027.
Até lá, as companhias aéreas devem reduzir as emissões de dióxido de carbono
(CO2) em 1% em seus voos domésticos. O objetivo é que em 2037 haja um corte de
10% nas emissões, com aumentos percentuais na redução durante os 10 anos.
A resposta para esse desafio é o
SAF, que deve ser misturado ao querosene fóssil para reduzir as emissões de
carbono.
SAF é oportunidade de
protagonismo brasileiro?
Os combustíveis sustentáveis são
a escolha principal para substituir a querosene de aviação (QAV), o combustível
fóssil que atualmente é usado pelas aviações brasileira e internacional.
O SAF é uma fonte renovável e
pode ser produzido a partir de diferentes matérias-primas, como óleos vegetais,
etanol, biomassa, gorduras animais, óleo de cozinha usado e resíduos agrícolas.
Dessa forma, a pegada de carbono do produto final é 80% menor que o de
derivados do petróleo.
Carlos Eduardo Hammershmidt,
vice-presidente do Grupo Potencial e vice-presidente de Relações Institucionais
da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), afirma que o Brasil
tem “o DNA para a produção de biocombustíveis“, citando a soja e o etanol,
matérias-primas para o SAF em abundância no país, como os principais destaques.
“O Brasil vai ser um exportador
de SAF, na minha opinião, porque temos todas as matérias-primas em abundância
no nosso mercado”, afirma.
Atualmente, o principal problema
dos combustíveis sustentáveis são os custos. Em média, o SAF custa quatro vezes
mais que o QAV e, para as empresas, esse não é um detalhe: os custos com
combustível representam 40% dos gastos das operações do setor aéreo.
Isso acontece principalmente pelo
fato de o combustível ainda estar em fase de testes, com uma produção
suficiente para atender apenas 0,2% da indústria global, de acordo com a Iata
(Associação Internacional de Transporte Aéreo).
Mas algumas iniciativas já
existem para elevar a produção. Em agosto de 2023, a Raízen (RAIZ4) certificou
seu etanol para participar da produção do combustível sustentável.
Além dela, a Petrobras (PETR4)
possui uma meta de produção de 6 mil barris por dia de diesel renovável e o
mesmo número para bioQAV, e o Grupo BBF (Brasil BioFuels), fundado em 2008,
também possui planos relacionados à sustentabilidade dos combustíveis, com a
expectativa de construir uma biorrefinaria na Zona Franca de Manaus.
Para Hammershmidt, da Ubrabio, é possível que o combustível para a aviação se torne mais barato, conforme a produção é estimulada no país, atingindo os patamares do biodiesel atualmente, não pesando para o bolso do consumidor.
Como o governo pode ajudar o
setor aéreo a zerar as emissões?
Para além das iniciativas do
setor aéreo, diversas instâncias do governo tentam fomentar a indústria de
combustíveis verdes.
O projeto de lei (PL) do
Combustível do Futuro é uma das ações implementadas para apoiar o segmento,
trazendo propostas para a redução de emissões de carbono e instituindo o
Programa Nacional de Combustível Sustentável de Aviação (ProBioQAV), que
apresenta as metas de redução a partir de 2027.
Para Hammershmidt, da Ubrabio, a
atuação do governo com o combustível sustentável de aviação passa pelo apoio à
produção, fornecendo segurança aos empresários para facilitar a exportação do
produto e fomentar sua distribuição.
“Com esse mercado, nós não
podemos voltar atrás. Ou a gente firma uma política interna com resiliência
para a produção de biocombustíveis, ou a gente não vira protagonista. Mas, se a
gente não virar protagonista, estamos perdendo uma oportunidade grande”,
explica.
Companhias aéreas já estão de
olho
Apesar de ainda não ser produzido
em larga escala, o setor aéreo já trabalha com formas para introduzir o SAF em
suas aeronaves.
Em julho do ano passado, uma das
aeronaves da Latam, um Airbus A320neo, partiu da França e chegou ao Ceará com
um combustível contendo 30% de SAF, obtido por óleo de cozinha, misturado ao
querosene.
O objetivo da companhia é que o
combustível renovável esteja em 5% de sua frota até 2030. Para 2050, a se
alinha à dos compromissos assumidos pelo Brasil na CORSIA: net zero.
A Embraer (EMBR3) também possui
modelos em teste que utilizam um combustível 100% sustentável, a Phenom 300E e
a Praetor 600.
Outro nome de peso que integra a
busca pelas reduções na emissão de carbono é a Gol (GOLL4), que por meio de um
sistema denominado book & claim adquire créditos de carbono gerados por
outras empresas que utilizam o SAF.
A presidente da Associação
Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR), Jurema Monteiro, explica que os
investimentos na modernização da frota aérea brasileira fazem com que seja
possível reduzir as emissões de carbono, pois motores mais recentes consomem
menos combustível e reduzem o efeito das emissões.
“O combustível é o item que mais
pesa no custo operacional das empresas, então naturalmente a gente consegue
ganhar com custos mais competitivos, e o passageiro pode sentir isso, com uma
malha mais eficiente e empresas mais fortalecidas também”, afirma ela.
“O país acaba se beneficiando uma
vez que a gente consegue uma melhoria na estrutura e na eficiência operacional
do setor como um todo, muito importante para o desenvolvimento econômico do
país”, complementa.
Sobre as mudanças para as empresas aéreas, Hammershmidt, da Ubrabio, diz que “elas terão que se adaptar. Não é uma questão de querer, é uma questão de sobrevivência”.
Fonte: Money Times.
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