A maioria das pessoas minimamente preocupadas com a crise climática ou ao menos com a poluição sabe o que deveria fazer para ajudar – usar menos o carro, comprar carro elétrico, viajar menos, eletrificar a casa, comer menos carne. O escritor americano Kim Stanley Robinson, preocupado com as mudanças no clima, acha difícil que essas mudanças ocorram, e na escala necessária, se cada indivíduo pensar nelas como uma imposição externa. “É como subir na balança quando você sabe que está um pouco acima do peso, ou dizer a uma pessoa amiga que ela deveria perder alguns quilos. Não é bem-vindo; raramente tem efeito”, afirma Robinson, em artigo para a Bloomberg Green.
O escritor é aclamado por unir
literatura de alta qualidade, relatos realistas e descrição de futuros
possíveis, em obras como The Ministry for the Future, Nova York 2140 e a
Trilogia de Marte. Ganhou dois dos principais prêmios em seu segmento – o Hugo
e o Nebula.
No artigo, Robinson imagina qual seria o roteiro mental para mais pessoas – aquelas com opções de consumo -- abraçarem uma vida com menor emissão de carbono, diante da “policrise”. O autor não retira a responsabilidade de governos e empresas, e reconhece que as ações individuais têm alcance limitado. Para ele, a forma de ação mais poderosa do indivíduo continua sendo apoiar politicamente leis de cortes de carbono.
Esse reconhecimento, no entanto,
não livra cada cidadão e cada família conscientes de fazer novas escolhas e
adotar novos comportamentos. Aí entra a sugestão de Robinson: uma postura
extremamente consciente do consumo de energia. “O que é necessário para
conduzir a uma mudança rápida entre os cidadãos mais prósperos é uma mudança
básica em atitude, uma mudança filosófica de valores – ação pessoal suficiente
para criar uma nova estrutura de sentimento, em que novos comportamentos se
tornem normais. Então, redução de carbono não será uma decisão, mas um hábito,
a coisa feita.” Nesse modo de agir, o cidadão se torna consciente do consumo da
mesma forma como pode ser tornar consciente da forma como respira, numa
comparação feita pelo Dalai Lama.
Robinson faz referência à
Sociedade 2.000 Watts, baseada na Suíça. Os participantes do grupo alertam que
2 mil Watts é a capacidade de produção de energia a que cada ser humano tem
direito, sem agravar a crise climática. Mas europeus já usam 6 mil Watts e
americanos, 12 mil. As experiências da Sociedade mostram que a vida com 2 mil
Watts é factível e agradável. O escritor sugere que todos nos concentremos em
atividades satisfatórias e não consumistas. E conclui: “Estivemos aprisionados
em casulos pelos combustíveis fósseis por tempo demais, e escapar dessa camada
de sujeira que nos envolve, para retornar ao mundo, será uma liberação.”
Fonte: Época Negócios.

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