A Organização Internacional da Aviação Civil (Icao), uma das agências das Nações Unidas, estima que o setor aéreo seja responsável por 2,5% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE), o equivalente a mais de 900 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2). O fator principal para o impacto ecológico é o uso de querosene de aviação, produto que é derivado do petróleo.
A Icao, em conjunto com as
empresas aéreas, estudam soluções para diminuir a pegada de carbono das
viagens. Em 2021, a Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata)
delimitou um compromisso para as 290 companhias aéreas de 120 países que fazem
parte da associação pensando em reduzir gradualmente a emissão líquida de CO2
da aviação comercial até 2050, quando os voos deverão ser neutros em carbono.
Para isso, um dos caminhos mais
promissores é o uso de combustíveis sustentáveis, os chamados SAF (Sustainable
Aviation Fuel, na sigla em inglês). De
acordo com Laís Forti Thomaz, pesquisadora da Rede Brasileira de Bioquerosene e
Hidrocarbonetos Renováveis para Aviação (RBQAV), os SAF têm potencial para
diminuir em até 80% as emissões de GEE dos aviões.
Entretanto, apenas 2% dos voos
comerciais utilizam combustíveis sustentáveis atualmente. De acordo com dados
da Icao e da Iata, dos mais de 22,2 milhões de voos anuais (total de 2021),
pouco mais de 400 mil são abastecidos com SAF.
Apesar de pouco, a pesquisadora
esclarece que não é uma quantidade insignificante. “Combustíveis para aviação
são muito delicados e a tecnologia dos SAF é relativamente nova. Entraves como
escala de produção e custo ainda limitam o setor”, relata.
Mesmo assim, para Thomaz ainda há
um longo caminho de investimentos necessários para alcançar as metas
internacionais para viagens sustentáveis até 2050.
O que são combustíveis
sustentáveis de aviação
A principal diferença entre os
SAF e os combustíveis convencionais é a matéria-prima. Enquanto o querosene é
um derivado do petróleo, assim como a gasolina, os SAF podem ser produzidos a
partir de biomassa, como plantas, resíduos florestais, óleos vegetais e
açúcares.
Segundo o Grupo de Ação do
Transporte Aéreo (ATAG, na sigla em inglês), os SAF tem as mesmas qualidades e
características químicas do combustível de aviação convencional, porém contém
menos impurezas e apreO que falta para aumentar o uso de combustíveis
sustentáveis na aviação?
Para que a meta de emissão zero
proposta pela Iata seja alcançada até 2050, a associação prevê que serão
necessários 449 bilhões de litros de combustíveis sustentáveis para suprir a
demanda total. No entanto, é aqui que os desafios começam.
Também segundo a associação, a
demanda de combustível atual do setor gira em torno de 390 bilhões de litros.
Porém, a capacidade de produção de SAF mundial é de apenas 14 milhões de
litros, ou seja, 0,003% da demanda total.
“As tecnologias de produção de
SAF ainda estão engatinhando. Atualmente, elas não têm maturidade para ganhar a
escala comercial necessária para atender a demanda do mercado”, afirma Thomaz.
Além da capacidade de produção, o
desafio para aumentar o uso de SAF é a logística. Segundo explica Thomaz, a
sustentabilidade também deve ser levada em conta no transporte desse
combustível, então, considerar onde ele está sendo produzido e onde vai ser
consumido é importante.
“Se a produção ocorre na Europa,
por exemplo, e o combustível vai ser utilizado em um voo que sai do Brasil, as
emissões desse transporte devem ser levadas em conta”, diz a pesquisadora.
Fonte: National Geographic

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