“As práticas sustentáveis, a médio e longo prazo, são bastante satisfatórias, não só do ponto de vista econômico, como também ambiental e social”, observa o gerente do Escritório Especializado em Agroecologia e Produção Orgânica (Esorg) da Emater DF, Daniel Oliveira. De acordo com um levantamento realizado pela instituição, mais de 5 mil agricultores atendidos pela Emater no DF exercem atividades ambientalmente sustentáveis. Quase três mil adotam práticas preservacionistas, pouco mais de mil estão em transição agroecológica, 644 utilizam essas duas ações e 420 são de base agroecológica.
De acordo com Rogério Dias,
engenheiro agrônomo e presidente do Instituto Brasil Orgânico, tais números
representam o início de uma caminha rumo um novo modelo. “O século XX vai ficar
marcado na história como o século que distorceu a lógica. Até o final do século
XIX, a nossa agricultura era menos agressiva, e agora com todos os efeitos
negativos da industrialização, estamos tentando reverter isso”, defende o
especialista. Ele explica que, até então, o principal foco era um retorno
rápido, voltado única e exclusivamente para a produção em massa, e isso trouxe
inúmeros malefícios para a sociedade.
Práticas preservacionistas são atividades agrícolas que respeitam a natureza já existente, como nascentes e áreas de preservação permanente. A transição agroecológica inclui atividades de intervenção para preservação ou recuperação do ambiente, como a utilização de barreiras naturais entre as lavouras. A base agroecológica conta com utilização de produtos e práticas naturais para o cultivo, sem a adoção de ações degradantes. “Temos que ter em mente que o solo é um meio vivo, e ele é a base de tudo”, pondera Rogério. “Quando temos práticas que mantém sua cobertura, seja ela morta ou viva, estamos garantido sua perenidade”, acrescentou o profissional, mencionando que um solo saudável gera plantas saudáveis.
De acordo com o Plano Plurianual
(PPA) de 2019 da Emater, a meta é aumentar a produção sustentável em 20% até
2023, objetivo que já foi superado no ano passado. Segundo Daniel Oliveira, com
a alta de preços dos insumos convencionais, a tendência é que os agricultores
encontrem soluções alternativas que tragam resultados. “Se nós não tivermos
essas práticas, incentivamos catástrofes naturais. Se a zona rural é
maltratada, a área urbana também sofre esses efeitos através de alagamentos,
enchentes, etc, pois tudo isso é reflexo de uma má utilização do solo”, destaca
o engenheiro agrônomo.
Proprietários de uma chácara de
pouco mais de 7 hectares no Núcleo Rural Taquara, região de Planaltina, o casal
Gabriel Pereira de Deus e Júlia Selau Verdum produzem frutas, hortaliças, grãos
e raízes que são cultivados em sistema agroflorestal, com certificação
orgânica. “Procuramos manter a propriedade em um sistema parecido ao máximo com
o natural, com plantios consorciados”, explicam.
De acordo com Gabriel, que é
formado em biologia, sua propriedade recebe estudantes de ciências agrárias do
Instituto Federal de Brasília (IFB) e da Upis – Faculdades Integradas. “Estamos
sempre aprendendo, fazendo experiências novas e estudando bastante para
encontrar novas fórmulas sadias de produção de alimentos”, completa.
Como ele explica, por todo o
território, as folhas secas que caem das bananeiras e demais árvores da chácara
permanecem no chão. “Dessa forma, elas nutrem o solo, conservando as
características naturais. É preciso deixar o solo rico, já que as plantas
retiram dele os principais nutrientes para sua sobrevivência”, menciona
Gabriel, que conta ainda que utiliza pouca irrigação. “Usando apenas a chuva,
ainda assim conseguimos bons resultados. Existem vários estudos que provam a
viabilidade do sistema agroflorestal”, diz. De acordo com Daniel Oliveira, de
forma geral, a agricultura está indo para esse lado, “do equilíbrio, da
sustentabilidade, da melhoria da vida no planeta”, expõe o gerente.
Fonte: Jornal de Brasília.
0 Comentários