Práticas de greenwashing diluem possibilidades de mudanças.


Nem tudo é o que parece. Ou melhor, nem tudo o que dizem ser verdade, é verdade. É o que acontece na “lavagem verde” (conhecida em inglês como greenwashing), que consiste em promover ações de marketing e publicidade com apelo ambiental, de forma ilusória ou até mesmo mentirosa, apenas para vender, lucrar e impulsionar-se no mercado. Para Jéssica Alves, jornalista e criadora de conteúdo estratégico de moda, “é como uma maquiagem verde que o marketing joga em cima dos produtos, como se o discurso fosse uma embalagem bem bonita, mas quando você abre, não tem nada.”


Muitas vezes, vem acompanhada de outras práticas como socialwashing ou pinkwashing, que cooptam causas sociais (feminismo, antirracismo, direitos LGBTQIA+, etc.) apenas para fins comerciais, afirmando um compromisso com a sociedade civil que na íntegra não é real.

Jéssica acredita que a prática aumentou nos últimos anos pois a procura por produtos mais sustentáveis cresceu em sinergia. “Algumas pesquisas mostram que desde 2017 o interesse dos brasileiros por produtos mais sustentáveis aumentou, então o mercado preguiçoso e oportunista viu uma brecha para colocar apenas uma etiqueta de ‘go green’”, aponta a jornalista que tem um quadro mensal em seu perfil chamado #SábadoSustentável.
O greenwashing não é apenas sobre informações falsas, mas também sobre aquelas distorcidas. Muitas empresas, por exemplo, são obrigadas a tratar sua água – como prevê a resolução Conama nº 357, que diz que toda empresa que utiliza recursos hídricos é obrigada a tratar e gerir seus efluentes – ou seu dano ambiental –  como prevê a Lei nº 9605 e o Decreto nº 3179 que determina que as empresas, instituições e pessoas jurídicas são responsáveis pelos impactos ambientais que causam – mas comunicam isso como um grande mérito para alavancar suas compras quando na verdade estão apenas cumprindo o básico.


Jéssica destaca o papel da comunicação de moda realizada de forma responsável e honesta. Ela acredita que é “preciso apresentar a sustentabilidade paro o público de forma didática e descomplicada, e não do tipo que só aponta o dedo falando ‘você está destruindo o nosso planeta’”. Ainda destaca o papel de blogueiras e influenciadoras, que têm muito alcance, mas pouco comunicam sobre as realidades da indústria da moda e como mudar.
Os cidadãos podem ficar atentos às etiquetas, na transparência sobre contas e processos nos canais da marca, mobilizar-se coletivamente, perguntar sempre e duvidar quando há carência de resposta. O combate é coletivo e individual, onde sensibilizar, informar e agir são verbos de ordem para que narrativas mentirosas não passem mais em branco.


Fonte: Carta Capital.