Nos últimos meses, a Apple lançou
iniciativas audaciosas. Anunciou um plano de investimento de US$ 100 milhões
para estimular o avanço de profissionais não brancos em carreiras como
engenharia de software, passou a apoiar uma reforma da justiça criminal nos
Estados Unidos (visando à redução dos vieses raciais no sistema) e informou que
se tornará neutra em carbono até 2030.
A principal mente por trás desses
esforços é Lisa Jackson, vice-presidente de Meio Ambiente, Políticas e
Iniciativas Sociais. Antes de ingressar na Apple, em 2013, a executiva comandou
a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos. Ela deu entrevista ao
site Grist sobre sua visão do cenário atual, em que empresários, executivos e
organizações são chamados a se posicionar sobre questões variadas.
A executiva diz que a pressão
para que os líderes corporativos se posicionem -- em temas como crise
climática, igualdade racial e Justiça -- se tornou quase um "imperativo
moral". Considera boa notícia esses líderes se sentirem obrigados pelo
menos a dizer alguma coisa (nos EUA, um forte catalisador desse momento foi a
sequência de assassinatos de pessoas negras -- George Floyd e Breonna Taylor
por policiais e Ahmaud Arbery por um ex-policial). Mas falar não basta. Lisa
adverte que uma liderança íntegra exige mais do que a atitude "tenho de
dizer alguma coisa".
Essa pressão se torna
especialmente forte, acredita Lisa, entre consumidores mais jovens. "Como
eles chegaram na era da informação, consideram realmente importante
transparência e comunicação. Eles não querem só saber o que você fala -- querem
saber o que você está fazendo", diz.
E acrescenta: "O momento
está enviando um sinal a todos nós de que não temos tempo a perder. Não podemos
nos dar ao luxo da complacência." Com experiência no governo e no setor
privado, ela considera necessário equilibrar urgência e senso estratégico.
"O mundo não vai esperar ninguém fazer planos para depois agir. Parte do
que você (empreendedor ou executivo) tem de fazer é comunicar o que você está
fazendo. Assim, você começa a construir um diálogo com a comunidade que se
importa com as questões em que você está trabalhando." Lisa acredita que
consegue oferecer um bom exemplo com os relatórios ambientais que a Apple vem
fazendo ano a ano, por produto, contando seu progresso.
Lisa diz que as diferenças na
sociedade tem de ser encaradas. A executiva afirma que demorou a se ver como
engenheira (ela é engenheira química de formação) porque, quando era pequena,
não conhecia essa profissão. "Crescendo na comunidade negra, vendo a cara
feia do racismo, vendo como mulheres são tratadas de forma diferente dos homens
nos ambientes de trabalho, acredito que parte do trabalho é chutar a porta e
deixá-la aberta, para as pessoas que vêm ao seu lado ou depois de você."
Fonte: Época Negócios.