Quando idealizaram a marca
Coletivo de Dois, em 2014, os estilistas Hugo Mor, de 33 anos, de Goiás, e o
paulistano Daniel Barranco, de 42, queriam fazer roupas diferentes das que
existiam no mercado. A ideia da dupla era criar usando materiais baratos, como
sobras e tiras de tecido.
Com esta ideia na cabeça, eles
juntaram 500 reais em retalhos e uma máquina de costura e criaram a primeira
coleção, com 127 peças. “Enchemos uma mala e nos mudamos de Goiânia para São
Paulo para participar de feiras e eventos”, afirma Hugo.
Na época, ambos sequer tinham
ouvido falar na expressão slow fashion — tendência que aplica os conceitos de
sustentabilidade e reutilização de materiais no mundo da moda. “Foi apenas
quando aparecemos em uma reportagem sobre o movimento que percebemos que a
marca se encaixava”, afirma Daniel.
O slow fashion (ou “moda lenta”,
numa tradução literal) não é uma tendência exatamente nova. A expressão surgiu
ainda na década de 1990, na Itália, sendo proveniente de outro movimento, o
slow food, que propõe uma forma mais consciente de se alimentar. Assim como o
irmão da culinária, o slow fashion está atrelado a hábitos de consumo
responsáveis, valorização de produtores locais e produção de itens com mais
qualidade e durabilidade. “A tendência é um contraponto ao conceito de fast
fashion, que dominou as décadas anteriores e consiste em grandes lojas de
departamento produzindo coleções novas a cada semana”, diz José Luís de
Andrade, professor de moda no Centro Universitário Senac, em São Paulo.
Oportunidades à vista
O potencial dos negócios
sustentáveis ligados à moda é grande. Um exemplo disso é que, segundo um estudo
publicado pela Bloomberg em janeiro deste ano, se a indústria têxtil rever suas
condutas em relação ao descarte de resíduos e ao consumo de água, energia e
produtos químicos, o setor poderá aumentar seu lucro em cerca de 110 bilhões de
euros por ano. Atualmente, o mercado fatura 1,2 trilhão de dólares anuais.
Sabendo disso, grandes redes do
setor de fast fashion, como Zara e H&M, têm investido em ações mais
sustentáveis, como estimular os clientes a devolver roupas danificadas ou doar
as que não usam mais para a reciclagem. “Esse é o futuro dessas lojas. Por
causa da estrutura, elas são as mais preparadas para se adequar aos requisitos
ecológicos”, afirma André Carvalhal, estilista e autor do livro Moda com
Propósito: Manifesto pela Grande Virada (Paralela, 52,90 reais).
De acordo com especialistas, os
estilistas e designers de moda são alguns dos profissionais que podem pegar
carona no movimento slow fashion. O mercado também abre portas para
empreendedores, principalmente aqueles que queiram vender roupas e acessórios
de fabricação própria.
Contudo, o estilista André
Carvalhal salienta que, além de adquirir conhecimento técnico sobre o ramo,
quem quiser atuar com a tendência também precisará entender de questões
relacionadas ao meio ambiente, como descarte de resíduos e economia circular.
“São vários temas novos no mercado, e muitos ainda não constam no currículo das
universidades. A alternativa, então, é buscar cursos livres e até de outras
áreas”, diz.
Fonte: Você S/A.