A sustentabilidade está começando a demonstrar sua viabilidade também no design dos veículos. Case de sucesso que comprova, na prática, que é possível ser construído a partir de insumos recicláveis e inovadores, é o carro conceito Citroën oli, que se pronuncia all-ë. Movido a bateria foi criado com materiais desenvolvidos pela Basf que visam ao prolongamento de sua vida útil e projetado para ser o mais leve possível, consumir menor quantidade de energia elétrica e ter autonomia de 400 quilômetros.
O gerente do Centro de Design da
Basf Alemanha, Alex Horisberger, participou do processo de criação do oli, que
utiliza plásticos, revestimentos e impressão 3D da indústria química de uma
forma que nunca havia sido feito antes. Durante participação em evento de
sustentabilidade da Basf o executivo contou, pela primeira vez, sobre o que
inspirou essa nova forma de interpretar e construir componentes reutilizáveis.
“Viajei para conhecer diversos
centros de design de montadoras, como BMW, Mercedes-Benz, Fiat, todas as
fabricantes francesas, Volvo e Polestar [marca de automóveis elétricos da
Volvo] no Reino Unido, a fim de inspirar a equipe de design da Basf. Em 2020
começamos a apresentar nossos materiais com propósito sustentável e foi quando
surgiu, a partir do chefe de design da Citroën, a proposta de colaborar para
desenvolvermos, juntos, um carro conceito.”
Os obstáculos para concretizar
essa parceria, porém, foram grandes, segundo Horisberger: “Houve um processo
intenso de convencimento junto aos meus chefes na Alemanha, pois normalmente
colaboramos com produtos premium e foi preciso demonstrar que um carro-conceito
sustentável é um produto premium. E o resultado está aí”.
A premissa que norteou o projeto,
de acordo com o executivo, foi a de que menos é mais: “A sustentabilidade não é
uma religião. Não é sobre o que você acredita, mas sobre as ações que você toma
para alcançá-la. E há muitas formas de fazer isso. Uma delas é consumindo
menos”.
O executivo da Basf apontou que
todo mundo pode contribuir para por em prática a sustentabilidade justamente
adquirindo menos coisas. No ano passado citou que o alemão médio possuía cerca
de 10 mil itens:
“Se olharmos para nossas próprias
casas, temos coisas demais para poucas pessoas usarem. Por vezes temos até mais
de uma casa, uma só para passar férias. O mesmo ocorre com nossas roupas. Não
raro, em liquidações, vendem-se dez camisetas por US$ 5. E eu pergunto: para
quê tudo isso? Não é melhor ter uma só com maior durabilidade e tecnologia
agregada a ela?”.
Um bom começo para por em prática
ações sustentáveis é pensar de acordo com a regra dos 5 Rs: repensar, recusar,
reduzir, reutilizar e reciclar: “A simplicidade também é bonita. Vamos
simplificar nossas vidas. É uma ótima forma de contribuir com este problema que
precisamos resolver”, afirmou, referindo-se à redução das emissões de CO2 para
evitar o avanço do aquecimento global.
Embora, aparentemente, o Citroën
oli não tenha nada de simples, justamente pela proposta que apresenta, com seu
design inteligente, arrojado e pronto para quebrar barreiras – tanto que,
embora o carro conceito não seja comercializado, será utilizado para inspirar
família de elétricos da marca – ele carrega consigo a mensagem e a comprovação
de que é possível inovar sem extrair mais insumos do meio ambiente.
O gerente do Centro de Design da
Basf Alemanha contou que quando começou a pensar maneiras de tornar o design
sustentável tomou como ponto de partida componentes que pudessem ser
reutilizados, como partes do carro, a exemplo de painel e dos assentos, mas que
mostrassem melhor desempenho: “Há muitas maneiras de colocar a sustentabilidade
em prática, mas isso precisa, definitivamente, ser incluído no design”.
Os bancos do veículo, assim como
os encostos de cabeça, utilizam materiais 100% recicláveis e têm apenas oito partes,
em vez de quarenta, como ocorre na média dos assentos utilizados atualmente: “O
objetivo foi reduzir a complexidade da montagem. E a complexidade deste veículo
também é muito baixa”.
Os assentos foram impressos em 3D
com a proposta de serem flexíveis, funcionais, duráveis e de evitarem
desperdício. O fato de o encosto de cabeça ter como origem a mesma família de
materiais facilita a reciclagem no fim da vida. Os pedais do acelerador e do
freio também substituíram o metal por plásticos de engenharia da Basf.
“O teto, o capô e o porta-malas
do oli utilizam, predominantemente, papel”, assinalou, referindo-se ao papelão
superleve e de alta resistência que tomou o lugar do aço em diversos pontos da
carroceria. Esses espaços foram projetados para suportar o peso dos
passageiros, que devem explorar ao máximo o veículo e sentar-se em cima dele,
aproveitando para fazer uma reunião ao ar livre, por exemplo, ou comer um
lanche.
Dentro do conceito de
simplicidade e sustentabilidade Horisberger destacou que, a partir do design,
foi possível algo impensável hoje em dia: construir um carro sem
ar-condicionado. O ângulo do para-brisa a 90 graus e as janelas inclinadas –
elas não podem ser roladas, é preciso tirá-las e colocá-las de volta –, afastam
naturalmente os raios do sol, o que reduz a temperatura no interior do
automóvel.
“Eu sei que sua aerodinâmica é
pobre. Mas o carro não é muito rápido. Sua velocidade é limitada a 110 km/h”,
destacou o executivo. O objetivo é também diminuir o consumo de eletricidade,
tanto que o pacote de baterias de 40 KWh dão conta da autonomia de 400
quilômetros mas, por outro lado, limitam seu alcance.
O gerente do Centro de Design da
Basf Alemanha destacou que o oli é um carro para a família, grande o
suficiente, veloz o suficiente: “Não é como um carro esportivo egocêntrico. É
para todos”.
Fonte: Auto Data.

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