É fato: o Brasil tem muito a
melhorar quando se trata de boas práticas ESG (ambiental, social e de
governança). Mas, é fato também, que a agroindústria nacional tem diversas
iniciativas ambientais que poderiam servir de exemplo para o resto do mundo. O
Renovabio é uma delas. A Política Nacional de Biocombustíveis, instituída em
dezembro de 2017, tem como objetivo incentivar o aumento da produção e da
participação de biocombustíveis na matriz energética de transportes do País,
reduzindo as emissões de gases de efeito estufa (GEE). Para tanto, traz metas
anuais de descarbonização que devem ser cumpridas em território nacional.
Parece burocrático, mas o resultado compensa. “Ao possibilitar a análise de todo
o ciclo de vida do processo de produção e uso, é possível mensurar os impactos
positivos da utilização dos biocombustíveis e monetizar o carbono retirado da
atmosfera”, disse Pietro Adamo Sampaio Mendes, diretor do departamento de
Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME).
O programa é dividido em duas partes. No começo da cadeia, o produtor é o responsável por medir e qualificar todas as suas emissões de GEE a fim de obter uma nota de eficiência energética para a comercialização dos Créditos de Descarbonização (CBios). Na ponta final, os distribuidores de combustíveis compram compulsóriamente os CBios na B3, Bolsa de Valores do Brasil. Para que o fluxo caminhe, cada distribuidor tem sua própria meta anual de descarbonização, que é estipulada conforme a sua participação no mercado de combustíveis fósseis. Cada tonelada de CO2 que deixa de ser emitida na atmosfera equivale a 1 CBio.
Ao final de cada ano, os ativos comprados são tirados de circulação. Em 2020, foram emitidos pouco mais de 18,5 milhões de CBios. Desses 14.896.273 foram negociados na B3 a um preço médio de R$ 43,66/CBio, o que gerou um volume financeiro de mais de R$ 650 milhões. “Para 2021, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) foi mais rigoroso e estipulou como meta a compra de 24,86 milhões de CBios pelos distribuidores”, afirmou Mendes.
Investir em uma matriz energética
cada vez mais limpa e renovável é bom para o meio ambiente e também para os
negócios, como no caso do Grupo Tereos. “Além de comercializarmos açúcar,
etanol e bioeletricidade, agora temos o mercado de carbono, que aumenta nossa
receita e ajuda na melhora da performance”, disse Jacyr Costa Filho, membro do
Comitê Executivo da empresa. Ano passado, a companhia emitiu 478 mil CBios. Se
foram sido comercializados pelo preço médio registrado no mercado,
representaram uma receita de quase R$ 21 milhões para o grupo francês. Para os
vendedores, a nova fonte de receita é importante, mas não é a única vantagem. É
isso que afirma Guilherme Nolasco, presidente executivo da União Nacional do
Etanol de Milho (Unem). “O Renovabio não é única e exclusivamente um
certificado de descarbonização que é vendido no mercado, ele agrega valor aos
negócios”. Entram na conta, o ganho na eficiência energética e ambiental, além
de pontos positivos para a imagem da empresa emissora. Em relação ao biodiesel,
Daniel Furlan Amaral, economista-chefe da Associação Brasileira das Indústrias
de Óleos Vegetais (Abiove), acredita que com o aumento do volume adicionado ao
diesel, que passou de 12% para 13% em março de 2021, o mercado de
biocombustível tende a expandir. “A indústria de biocombustíveis motiva e gera
um incentivo positivo para a agregação de valor no Brasil”.
Para impulsionar o mercado, o
governo anunciou, em janeiro, a criação do Programa BNDES RenovaBio. Empresas
produtoras do biocombustível financiadas com crédito do programa, que ao longo
do período de pagamento alcançarem as metas de mitigação de emissão de CO2,
terão redução na taxa de juros. Com capital mais barato, a expectativa é que
aumentem os investimentos na produção dos combustíveis limpos, fortalecendo a
matriz energética renovável que impulsionará o Brasil na era da economia verde.
Fonte: Dinheiro Rural.

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