Quatro medidas que podem evitar um futuro colapso ambiental do planeta.

Em 2020, o choque provocado pela Covid-19 mostrou como a humanidade está interligada com a natureza. Em um ano, um vírus transmitido pela vida selvagem já infectou cerca de 100 milhões de pessoas, interrompeu as cadeias de suprimentos globais, destacou as desigualdades e expôs novas vulnerabilidades em nossos sistemas financeiros: os custos do nosso relacionamento disruptivo com o meio ambiente são surpreendentemente caros.


Neste ano, os líderes mundiais devem se reunir na Conferência das Partes da Convenção (COP) sobre Diversidade Biológica (CDB) e na COP da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática da (UNFCCC) para chegar a um acordo sobre uma nova estrutura que proteja a biodiversidade e aumente os compromissos climáticos globais que orientarão os esforços dos próximos dez anos para evitar o colapso do planeta.

No entanto, apenas o estabelecimento de metas ambiciosas não basta. É preciso cumpri-las e, para tanto, é necessária uma visão estratégica, na qual a natureza seja considerada como parte integrante e central de nossa economia, sociedade e vida cotidiana.

A seguir são destacadas quatro das medidas mais urgentes a serem adotadas para se evitar que o planeta entre em colapso:

1. Impedir a próxima pandemia

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), proteger o planeta é a maneira mais simples de prevenir futuras pandemias. A Covid-19 foi originalmente provocada pelo contato disruptivo entre humanos e vida selvagem. Com uma estimativa de que a vida silvestre é portadora de mais de 850 mil vírus que podem ser transmitidos aos seres humanos, a probabilidade de nos depararmos com outros surtos pandêmicos é alta se continuarmos a destruir o habitat de animais e a explorá-los sem escrúpulos.

No Brasil, além do fortalecimento e proteção de unidades de conservação e terras indígenas, que abrigam uma grande parte da fauna silvestre do país, é preciso reprimir o comércio ilegal desses animais. É necessária também a efetiva implantação de medidas de inteligência territorial e fomento a práticas sustentáveis que evitem o desmatamento e os incêndios florestais. A perda crescente da vegetação nativa brasileira provoca não só a morte, mas também o deslocamento dos animais selvagens e um maior contato entre estes e as pessoas ou animais domesticados, incluindo o gado que serve como principal fonte de proteínas para a maioria dos brasileiros.

2. Impedir que as mudanças climáticas se exacerbem

As mudanças climáticas já são parte da realidade do planeta, mas ainda há tempo para limitar o aumento da temperatura e reduzir alguns de seus impactos. A sinergia entre a tecnologia e a natureza pode contribuir com isso. A geração em escala de energia renovável (eólica, solar, biomassa e hídrica) — produzida sem a conversão ou degradação de habitats naturais — será essencial para a redução do uso de combustíveis fósseis, principais responsáveis pelas emissões globais de CO2.


No Brasil, as contribuições da energia solar e eólica para a matriz energética nacional, embora crescentes, ainda são relativamente pequenas. Além do foco no aumento da capacidade instalada em larga escala, a criação de linhas de crédito acessíveis, específicas para o setor energético eólico e solar, em particular em zonas rurais e isoladas, beneficiará uma parcela da população ainda com limitado ou nenhum acesso à energia elétrica, incluindo comunidades tradicionais e pequenos agricultores familiares.

3. Promover investimentos privados e públicos sustentáveis

Mais de US$ 44 trilhões da economia global dependem da natureza, distribuídos em praticamente todos os setores da atividade humana, incluindo aqueles essenciais à sobrevivência, como os ligados à segurança hídrica e alimentar e à saúde. Por exemplo, um terço dos produtos farmacêuticos em uso hoje foram originalmente encontrados em plantas e outras fontes naturais ou foram derivados de substâncias que ocorrem naturalmente, e é inimaginável o número de outros princípios ativos que poderão contribuir no futuro para o desenvolvimento de novos medicamentos.

Isso significa que não é possível reconstruir economias saudáveis ​​sem investir substancialmente no planeta. Globalmente, são necessários mais US$ 700 bilhões por ano para financiar a proteção e a restauração ambiental, infelizmente apenas uma fração desse valor é investida, abrindo uma lacuna profunda.

4. Promover o consumo sustentável

Os consumidores deverão, com o apoio dos governos e empresas, se educar sobre o impacto ambiental de seu comportamento de consumo e posteriormente usar seu poder de compra para exigir maior transparência e melhores práticas, como produtos livres de desmatamento, por meio do aumento do uso de rótulos ecológicos e sistemas  de certificação por empresas e marcas que apoiam práticas positivas para a biodiversidade e a natureza em geral em cadeias de abastecimento.

Essa pressão dos consumidores fará com que grandes compradores com influência significativa em cadeias de abastecimento desenvolvam e implementem políticas e padrões verdes de compras; trabalhando dentro da cadeia para monitorar, rastrear e verificar impactos ambientais e sobre a biodiversidade. Essa abordagem assegurará que os produtores primários e os intermediários adotem os padrões de sustentabilidade exigidos, abandonando práticas prejudiciais ao meio ambiente.

Nos últimos anos, mais e mais as evidências — e consequências — da disrupção dos sistemas naturais se fazem sentir no cotidiano de todos ao redor do planeta. Não se trata mais da realidade de indivíduos ou de países isolados. Há, no entanto, caminhos alternativos que necessitam da cooperação de cada um — produtor, consumidor, setor privado e governos — para que sejam feitas escolhas e empreendidas ações e políticas ambientais, sociais e econômicas destinadas a proteger a biodiversidade e a reduzir práticas prejudiciais.


Fonte: Galileu.

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